os planetas não influenciam a gente

Os planetas não influenciam a gente

Pelo menos, não como algo que está fora de nós. Essa noção de “influência” na astrologia, essa noção de “causa e efeito”, por incrível que pareça, só surgiu no contato da astrologia com a ciência moderna. Foi a ciência europeia moderna (leia-se colonizadora) que começou a pensar em termos de causa e efeito, a partir da ideia de que existe uma separação entre ser humano, cultura, natureza, entre pessoas e cosmos. Da mesma forma, também houve uma cisão entre Terra e céu, como se a Terra não fosse um astro, como se o corpo humano não fosse um corpo celeste também.

A astrologia é muito mais antiga do que esta visão moderna do mundo. Ela estuda as relações que nós estabelecemos com o cosmos do qual somos parte. Conhecer a natureza é conhecer como a natureza se expressa em nós, nos conhecer é conhecer a natureza também.

Ninguém é de um jeito “por causa” do Sol ou da Lua no mapa, nem por causa dos signos. Os signos, por exemplo, falam sobre os elementos da natureza que nos compõem. Se somos quentes quer dizer que temos fogo. Se nos alimentamos, se temos músculo, quer dizer que somos terra. Se respiramos e circulamos por aí, quer dizer que também somos uma composição com o ar. Se choramos, se salivamos, quer dizer que temos água em nós.

Também não há motivo para ter medo do que Mercúrio retrógrado ou a Lua em tal signo pode fazer com a gente. Eles não vão fazer nada com a gente, nem com a nossa vida. Não como se a gente estivesse “aqui” e eles “lá”. Não existe essa separação. Se todos temos um sol e uma lua no mapa é porque todos nós temos o dia e a noite dentro de si. Todos nós nascemos todo dia, brilhamos e queremos aparecer no mundo, assim como precisamos de recolhimento, escuro, repouso.

Se o sol e a lua fazem algo conosco é porque somos sol e lua. Somos, literalmente, poeira de estrela. Somos céu, somos nuvem. Somos da mesma matéria da qual o cosmos é feito. E conhecer o cosmos é uma forma de conhecer como a natureza se move em nós. Quais os seus ritmos, as suas temperaturas, movimentos de condensação, dissipação, enfraquecimento, potencialização… Se os planetas nos influenciam, nós influenciamos os planetas também.

Julia Francisca, março de 2024

Editora Cultura e Barbárie P. 90
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